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Jornal contrário às ideias do Correio Braziliense

Escrito por cotin | Publicado: Segunda, 28 de Janeiro de 2019, 16h24 | Última atualização em Sexta, 13 de Agosto de 2021, 13h55

Extrato de um ofício dirigido ao conde de Funchal – Domingos Antônio de Sousa Coutinho – relatando a inocência e fidelidade do doutor Bernardo José de Abrantes. Ressalta ainda que, nesse momento, seria muito proveitoso para a coroa portuguesa utilizar o talento do Dr. Abrantes e do Dr. Vicente Pedro Nolasco Pereira da Cunha para que, permanecendo em Londres, escrevessem um jornal que fosse contra as ideias expressas no Correio Braziliense de Hypólito da Costa. Mais tarde, tornaram-se redatores do periódico O Investigador Portuguez em Inglaterra ou Jornal Literário, Político, Etc, financiado pelo governo português então no Rio de Janeiro.

Conjunto documental: Avisos e Ofícios. Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Guerra
Notação: IJJ1 703
Datas limite: 1812-1812
Título do fundo: Série Interior
Código do fundo: A6
Data do documento: 16 de janeiro de 1812.
Local: Palácio do Rio de Janeiro.
Folha(s): 27-28

 

Leia esse documento na íntegra

 

“Extrato de um ofício dirigido ao Conde do Funchal[1] na data de 8 de Janeiro de 1812.

Havendo-se dignado a SAR[2] tomar em consideração o que V. Exª escreve no seu ofício número nº 1 em cifra, a respeito do Dr Abrantes[3], autorizou-me o mesmo Augusto Senhor participar a V. Exª que pode declarar ao Dr Abrantes, que SAR está hoje convencido, não só da sua inocência, mas da sua fidelidade, livres, e grande merecimento e que não sendo possível dar-lhe outra vez o lugar de Inspetor Geral dos Hospitais, porque SAR autorizou ao Marechal Bresford[4] para fazer todas as alterações que julgar convenientes a semelhante respeito, e que se supõe que este lugar, ou não existirá, ou terá mudado totalmente de forma que o mesmo Augusto Senhor me ordenou escrever ao Sr Conde de Aguiar[5], que seria muito da Sua Real Satisfação, que S. Exª visse se podia ter lugar o requerimento do mesmo Dr Abrantes para uma Cadeira da Universidade que ele desejava, e a que parecia ter todo o direito, sem lembrar o seu grande merecimento, que o faria muito digno de uma Cadeira na Universidade. Tudo isto se acha executado, mas considerando SAR, que no momento presente, é muito útil aproveitar aí os grandes talentos do Dr Abrantes e do Dr Nolasco[6], para escreverem um douto, e razoável Jornal[7], que obste às calúnias do Infame Hipólito[8] e do Correio Brasiliense[9], autoria SAR a VExª para que negocie com o Dr Abrantes o modo com que SAR poderia concorrer para que ele se possa conservar em Londres, para que juntamente com o Dr Nolasco continuem o jornal, que tem principiado e que pode fazer grande bem ao serviço de SAR, e servir de contraveneno às infâmias do revolucionário Hipólito SAR ordena que V. Exª ponha a última mão a este negócio, e que informe do modo com que se poderá fazer este arranjamento de maneira que lhe de resultados ao Real Serviço as mais decididas vantagens, e que também se procure segurar o cômodo estabelecimento do Dr Abrantes, a quem SAR tende hoje toda a justiça, e do Dr Nolasco, que ambos podem aí ser muito úteis ao bem do Real Serviço com a publicação do seu Jornal, que instrua e promova a felicidade pública, obtendo as vistas, e sinistras intenções do revolucionário Hipólito, cujo último Correio Brasiliense e história da sua perseguição são dignas da sua infiel, satírica e mal aparada pena.

 

[1]COUTINHO, DOMINGOS ANTÔNIO DE SOUSA (1760-1833). primeiro e único conde de Funchal, título nobiliárquico que recebeu em 1808 e, em 1833, marquês de Funchal. Foi um diplomata português, veio de uma família nobre, filho de d. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, governador de Angola e depois embaixador em Espanha e d. Ana Luíza da Silva Teixeira de Andrade. Formou-se em Leis pela Universidade de Coimbra, logo iniciou sua carreira diplomática. Foi embaixador português na Dinamarca, Turim, Roma e Inglaterra. Durante o tempo que serviu à embaixada portuguesa em Londres, d. Domingos participou das negociações com o governo britânico para assinatura do tratado de 22 de outubro de 1807, responsável pela transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808. Também foi personagem de destaque durante os acordos para a elaboração dos tratados de 1810. Orientou e intermediou, junto a Coroa portuguesa, a publicação do periódico O Investigador Português em Inglaterra [ver Douto e razoável jornal], que circulou de 1811 a 1818, criado para combater as ideias divulgadas pelo Correio Braziliense de Hipólito da Costa.

[2]JOÃO VI, D. (1767-1826): segundo filho de d. Maria I e d. Pedro III, se tornou herdeiro da Coroa com a morte do seu irmão primogênito, d. José, em 1788. Em 1785, casou-se com a infanta Dona Carlota Joaquina, filha do herdeiro do trono espanhol, Carlos IV que, na época, tinha apenas dez anos de idade. Tiveram nove filhos, entre eles d. Pedro, futuro imperador do Brasil. Assumiu a regência do Reino em 1792, no impedimento da mãe que foi considerada incapaz. Um dos últimos representantes do absolutismo, d. João VI viveu num período tumultuado. Foi sob o governo do então príncipe regente que Portugal enfrentou sérios problemas com a França de Napoleão Bonaparte, sendo invadido pelos exércitos franceses em 1807. Como decorrência dessa invasão, a família real e a Corte lisboeta partiram para o Brasil em novembro daquele ano, aportando em Salvador em janeiro de 1808. Dentre as medidas tomadas por d. João em relação ao Brasil estão a abertura dos portos às nações amigas; liberação para criação de manufaturas; criação do Banco do Brasil; fundação da Real Biblioteca; criação de escolas e academias e uma série de outros estabelecimentos dedicados ao ensino e à pesquisa, representando um importante fomento para o cenário cultural e social brasileiro. Em 1816, com a morte de d. Maria I, tornou-se d. João VI, rei de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1821, retornou com a Corte para Portugal, deixando seu filho d. Pedro como regente.

[3] CASTRO, BERNARDO JOSÉ DE ABRANTES E (1771-1833): foi um médico, diplomata e jornalista português. Formou-se em medicina pela Universidade de Coimbra, tornando-se médico da Real Câmara e físico-mor do reino. Em 1809, foi preso pela inquisição acusado de jacobinismo e de ser maçom. Tempos depois, tornou-se embaixador em Londres, onde fundou, junto com o dr. Vicente Pedro Nolasco Pereira da Cunha, o periódico político O Investigador Portuguez em Inglaterra ou Jornal Literário, Político, Etc.[ver Douto e razoável jornal], que circulou de 1811 a 1818. Criado para combater o Correio Braziliense de Hipólito da Costa, esse jornal fez parte dos chamados jornais de Londres, periódicos com notícias do Brasil, mas impressos na Inglaterra.

[4] BERESFORD, WILLIAM CARR (1768-1854): foi um político e militar britânico que participou da Guerra Peninsular, comandando as tropas aliadas anglo-lusas contra os exércitos franceses que invadiram Portugal [ver Pérfidas invasões francesas], sob o comando dos generais Junot, Soult, e Massena. Após a expulsão dos franceses, Beresford vem à corte do Rio de Janeiro em 1815, onde d. João concede o título de marechal general. Volta à Portugal com amplos poderes políticos, delegado imediato do monarca, entregando os portugueses à humilhante tutela de um estrangeiro. Com a Revolução do Porto de 1820, Beresford é forçado a retornar à Inglaterra.

[5] CASTRO, D. FERNANDO JOSÉ DE PORTUGAL E (1752-1817): 1o conde de Aguiar e 2o marquês de Aguiar, era filho de José Miguel João de Portugal e Castro, 3º marquês de Valença, e de Luísa de Lorena. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, ocupou vários postos na administração portuguesa no decorrer de sua carreira. Governador da Bahia, entre os anos de 1788 a 1801, passou a vice-rei do Estado do Brasil, cargo que exerceu até 1806. Logo em seguida, regressou a Portugal e tornou-se presidente do Conselho Ultramarino, até a transferência da corte para o Rio de Janeiro. A experiência adquirida na administração colonial valeu-lhe a nomeação, em 1808, para a Secretaria de Estado dos Negócios do Brasil, pasta em que permaneceu até falecer. Durante esse período, ainda acumulou as funções de presidente do Real Erário e de secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Foi agraciado com o título de conde e marquês de Aguiar e se casou com sua sobrinha Maria Francisca de Portugal e Castro, dama de d. Maria I. Dentre suas atividades intelectuais, destaca-se a tradução para o português do livro Ensaio sobre a crítica, de Alexander Pope, publicado pela Imprensa Régia, em 1810.

[6] CUNHA, VICENTE PEDRO NOLASCO DA (1771-1844): médico, jornalista e poeta português, Vicente Pedro formou-se em ciências médicas pela Universidade de Coimbra, exercendo a profissão no hospital das Caldas da Rainha até o ano de 1807. Com a invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal em 1807 [ver Pérfidas invasões francesas], dr. Nolasco manifestou-se contrário aos invasores e emigra para Londres, onde fundaria, junto com Bernardo José de Abrantes e Castro o periódico político O Investigador Portuguez em Inglaterra ou Jornal Literário, Político, Etc. [ver Douto e razoável jornal], que circulou de 1811 a 1818.

[7]DOUTO E RAZOÁVEL JORNAL: Em 1811, dois médicos portugueses, Vicente Pedro Nolasco da Cunha e Bernardo José Abrantes e Castram, fundariam, em Londres, o jornal mensal O Investigador Portuguez em Inglaterra ou Jornal Literário, Político, Etc. O periódico dispunha de subsídios do embaixador português em Londres, o conde de Funchal, sob a anuência da Coroa portuguesa no Rio de Janeiro. Segundo Nelson Werneck Sodré, os redatores recebiam uma pensão para manter o jornal, além de ter pagas as despesas com papel e a tipografia. Foi criado com o objetivo de diminuir a influência do Correio Braziliense, considerado um jornal danoso à imagem de d. João e da monarquia, “fomentando a rebelião e a anarquia”. O apoio financeiro recebido estava associado à postura leal e a serviço da Coroa adotada pelo periódico. Quando, no entanto, o redator do jornal “tomou-se de ideias próprias” (SODRÉ, 1966), e passou a defender o retorno de d. João a Portugal, o auxílio à folha foi suspenso, interrompendo sua publicação em 1819. Assim como o Correio Brasiliense, O Investigador Portuguez fez parte dos chamados jornais de Londres, publicados na Inglaterra, mas sua circulação direcionada aos leitores luso-brasileiros.

[8] MENDONÇA, HIPÓLITO JOSÉ DA COSTA PEREIRA FURTADO (1774-1823): natural da Colônia do Sacramento, Hipólito da Costa, como ficou mais conhecido, era membro de uma família ilustre, formou-se pela Universidade de Coimbra em leis, filosofia e matemática (1798). Foi diplomata do governo português e, durante viagem aos Estados Unidos ingressou na maçonaria. Em 1805, foi detido e acusado pela Inquisição de disseminar ideias maçônicas, refugiando-se em Londres. Recebeu apoio financeiro do governo brasileiro para se manter no exílio, de onde escreveu e publicou seu jornal, O Correio Braziliense ou Armazém Literário (1808-1822). Periódico de caráter político teve grande influência no processo de independência do Brasil. No entanto, durante os primeiros anos, tinha apenas a intenção de informar aos leitores do Brasil sobre os acontecimentos na Europa. O jornal circulava livre de censuras em Portugal assim, o jornalista passaria a defender ideias liberais, sobretudo a emancipação colonial, dando ampla cobertura a Revolução Pernambucana e os acontecimentos posteriores que culminaram na proclamação da independência.

[9]CORREIO BRAZILIENSE: Criado por Hipólito da Costa, seu redator, o periódico foi publicado entre os anos de 1808 e 1822. Apesar do nome, o jornal era editado na Inglaterra, mas circulou ilegalmente em Portugal e no Brasil, reputado como o primeiro jornal do país. Influenciado pelo reformismo ilustrado, Hipólito defendia o chamado Império luso-brasileiro – projeto capitaneado pelo fidalgo português d. Rodrigo de Sousa Coutinho –, a manutenção de sua unidade e forma de governo monárquico, no entanto, seria necessário reformas liberais em sua ultrapassada estrutura absolutista. Por suas críticas às práticas políticas do Estado imperial e o fomento ao debate político, foi considerado um jornal de oposição. Argumentava a favor da independência do Brasil, mas não de sua ruptura com Portugal, o que mostrar-se-ia, anos mais tarde, inevitável. O correio também encerrava uma proposta civilizatória para o país, por meio da divulgação dos progressos científicos da época, mostrando-se outrossim contrário à tirania e ao absolutismo. No jornal, Hipólito defendia a liberdade de imprensa, segundo o modelo liberal inglês, o fim da Inquisição, da escravatura e da censura. O periódico marcou o início da corrente jornalística conhecida como os jornais de Londres, da qual fizeram parte O Investigador Portuguez em Inglaterra ou Jornal Literário, Político, Etc. (1811-1819); Argus (1809); O Zurrague Político das Cortes Novas (1821); O Portuguez ou Mercúrio Político, Commercial e Literário (1814-1826) e o Campeão Portuguez ou o Amigo do Rei e do Povo (1819-1821), cuja circulação foi de caráter similar ao do Correio Braziliense.

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