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Construção da Praça de Comércio

Publicado: Quinta, 21 de Junho de 2018, 17h42 | Última atualização em Segunda, 23 de Agosto de 2021, 20h12

Correspondência de d. Rodrigo de Souza Coutinho, ministro dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, para o conde de Aguiar, Fernando José de Portugal e Castro, ministro e secretário de Estado dos Negócios do Brasil, sobre a carta enviada ao primeiro por Lord Strangford, embaixador da Grã-Bretanha junto a Corte portuguesa, que expõe a necessidade de construir um edifício no qual se faça uma Praça de Comércio para os negociantes do Rio de Janeiro.

 

Conjunto documental: Missões Diplomáticas
Notação: IR³ 17
Datas-limite: 1807-1849
Título do fundo: Série Relações Exteriores
Código do fundo: BA
Argumento de pesquisa: d. Rodrigo de Souza Coutinho
Data do documento: 6 de julho de 1809
Local: Rio de Janeiro
Folha(s): -

Ilustríssimo Excelentíssimo Senhor,

 

Não posso dispensar-me de levar a presença de vossa excelência, a carta, que acabo de receber de Lord Strangford[1], com a nota que a acompanha, pela qual verá vossa excelência a grande necessidade que há de se aprontar um edifício no qual se faça Praça de Comércio[2], interinamente, e possam ali os negociantes tratarem as suas transações, como é conveniente; e rogo a vossa excelência queira dar as providências necessárias, a fim de concluir-se com a possível brevidade, um estabelecimento tão útil.

Deus guarde a vossa excelência.

Palácio do Rio de Janeiro, em 6 de julho de 1809

Conde de Linhares[3]

 

[1]SMITH, PERCY CLINTON SYDNEY (1780-1855): Lord Strangford, diplomata, sexto visconde de Strangford, em 1801, foi o enviado britânico que negociou diretamente com o príncipe d. João a proposta de transferência da corte portuguesa para o Brasil. Cumprindo os interesses britânicos, trabalhava secretamente pela independência das colônias espanholas. Negociou, junto ao conde de Linhares, os tratados de 1810, também conhecidos como tratado/convênio Linhares-Strangford. Por sua constante intromissão em assuntos de administração da colônia, perdeu prestígio junto ao príncipe regente, sendo nomeado, em março de 1817, para servir em Estocolmo como representante da coroa britânica. O cônsul geral Sir Henry Chamberlain substituiu-o no posto interinamente junto a d. João VI. Dado à literatura, chegou a publicar, em 1803, um livro com traduções para o inglês de poemas de Luís de Camões. Deve-se também à ação de Lord Srangford a doação por d. João VI de um terreno na Gamboa onde foi construído o cemitério dos ingleses onde eram sepultados cidadãos britânicos.

[2] PRAÇA DO COMÉRCIO: espaço ocupado por comerciantes para fazer negócios. Se a origem da ideia está no espaço físico da “praça” como um local público e amplo de reunião de diversos negociantes como uma feira, há um significado moderno que implica não somente o espaço livre, um rocio, mas as construções ao redor dele, onde se concentram bancos, casas de seguro, navegação e outras instituições e órgãos ligados ao comércio de grande monta, tendo como exemplo a Praça do Comércio de Lisboa, construída posteriormente ao terremoto de 1755. No caso do Rio de Janeiro joanino, a Praça do Comércio foi um grande edifício erguido em junho 1819 às margens da baía da Guanabara, próximo à igreja da Candelária, e inaugurado em maio de 1820. O projeto fora do arquiteto francês Grandjean Montigny, vindo para o Brasil integrando a missão artística francesa. Segundo a historiadora Ângela Teles em Grandjean De Montigny: da arquitetura revolucionária à civilização nos trópicos (Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2008), a Praça do Comércio seria, para d. João VI, o “símbolo do projeto político e civilizatório que se pretendia construir na América portuguesa”. O belo prédio em estilo neoclássico abrigou a praça de comércio, também chamada “bolsa” do comércio, durante pouco tempo, até o início das agitações políticas em torno da revolução liberal do Porto e do retorno da Corte portuguesa, que levariam à invasão da praça por tropas e à morte de partidários do liberalismo. Nessa ocasião, em 1821, fora fechado e reabriu somente em 1824, pós independência, como alfândega, funcionando assim até meados do século XX. Na década de 1990 o edifício se tornou um importante centro cultural da cidade, chamado hoje, Casa França-Brasil.

[3] COUTINHO, RODRIGO DE SOUZA (1755-1812): afilhado do marquês de Pombal, este estadista português exerceu diversos cargos da administração do Império luso, como o de embaixador em Turim, ministro da Marinha e Domínios Ultramarinos (1796-1801) e presidente do Real Erário (1801-3). Veio para o Brasil em 1808, quando foi nomeado secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, permanecendo no posto até 1812, quando faleceu no Rio de Janeiro. D. Rodrigo foi aluno do Colégio dos Nobres e da Universidade de Coimbra, tendo viajado pela Europa e mantido contato com iluministas como o filósofo e matemático francês Jean Le Rond d’Alembert, um dos organizadores da Encyclopédie. Considerado um homem das Luzes, destacou-se por suas medidas visando a modernização e o desenvolvimento do reino. D. Rodrigo aproximou-se da geração de 1790, vista como antecipadora do processo de Independência, e foi o principal idealizador do império luso-brasileiro, no qual a centralidade caberia ao Brasil. Sob o seu ministério, o Brasil adquiriu novos contornos com a anexação da Guiana Francesa (1809) e da Banda Oriental do Uruguai (1811). Preocupado com o desenvolvimento econômico e cultural, bem como com a defesa do território, Souza Coutinho foi um partidário da influência inglesa no Brasil, patrocinando a assinatura dos chamados “tratados desiguais” de que é exemplo o Tratado de Aliança e Comércio com a Inglaterra [ver Tratados de 1810]. Responsável pela criação da Real Academia Militar (1810), foi ainda inspetor-geral do Gabinete de História Natural e do Jardim Botânico da Ajuda; inspetor da Biblioteca Pública de Lisboa e da Junta Econômica, Administrativa e Literária da Impressão Régia; conselheiro de Estado; Grã-Cruz das Ordens de Avis e da Torre e Espada. Em 1808, o estadista recebeu o título nobiliárquico de conde de Linhares.

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