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Campanhas de demarcação de limites da América Meridional

Publicado: Quinta, 21 de Junho de 2018, 17h34 | Última atualização em Quarta, 05 de Mai de 2021, 20h38

Prefácio do Diário Resumido e Histórico da Primeira divisão da quarta Campanha de demarcação de limites da América Meridional, de autoria do astrônomo, geógrafo e matemático José de Saldanha. No diário, promove uma minuciosa descrição geográfica da capitania do Rio Grande de São Pedro, além de uma explicação etimológica dos nomes dados pelos nativos aos locais e rios percorridos pela expedição. A fauna e flora são descritas sob o sistema de Lineu, assim como os nativos: dentre eles os Tapes e Minuanos. Assinado pelo governador da Capitania do Rio Grande de São Pedro, o brigadeiro Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara e pelo engenheiro Alexandre Eloy Portelli.  

 

Conjunto documental: Vice-reinado. Correspondência com o governo e mais pessoas do Rio Grande do Sul sobre demarcação de limites, etc.
Notação: códice 104, vol.10.                                                                                                                               
Datas-limite: 1785 - 1789
Título do fundo: Secretaria de Estado do Brasil
Argumento de pesquisa: Viagens científicas e filosóficas
Data do documento: 10 de novembro de 1787                                                                           
Local: Rio Grande de São Pedro
Folhas: 130 a 132

 

Prefácio

Pode o pintor com delicado pincel representar a natureza; mas não expressar as circunstâncias, notícias e movimentos dos sucessos. Esta é a parte reservada ao historiador: feliz a enérgica pena ao que ao seu escritor sabe desempenhar, felizes as palavras, que uma nova pintura compõe, aquela perceptível a vista, está ao discurso.

Um extenso Diário, qual o que compomos na Campanha[1], é indispensável para a exata configuração dos planos; porém ele fica fastidioso a leitura, pela multidão de adições próprias da matéria e semelhante a uma apostila das Leis da estrutura superficial da Terra. D’aqui se vê facilmente a precisão de se construir outro, em o qual não somente se resuma aquele, podendo servir também a formação de novo mapa, mas ainda se lhe ajuntem algumas breves notas sobre a História Natural[2] e do País.

Esta é a obra que eu sou obrigado satisfazer na ausência do Segundo comissário, o coronel Francisco João Roscio[3], que se acha incumbido da demarcação do Art° 8º[4]. Talvez seja bem diferente o método que eu me proponho a seguir; d’aquele de que ele o faria nos antecedentes diários, e dos quais não tive jamais conhecimento algum: Porém que melhor desculpa posso eu ter aos meus erros, do que a da obediência às ordens superiores? Eu sou mandado com as frágeis armas da minha humilde eloquência apresentar o descoberto peito aos críticos golpes das armadas séries de ilustres e assaz instruídas pessoas por cujas mãos tem de caminhar este papel.

Vem pois a ser o corpo principal do presente diário resumido a explanação de todas as marchas, o seu rumo geral verdadeiro, e as suas distancias retas, e andadas; o resultado das observações de Latitude, Longitude, e variação d’agulha; uma leve passagem sobre as qualidades do terreno de cada derrota, e a descrição particular dos lugares, montanhas, arvoredos, lagoas, arroios e rios remarcáveis com as etimologias e significados dos seus nomes. Na citação das notas eu devo referir algumas notícias das produções naturais deste continente pelos três reinos: animal, vegetal e mineral, descrevendo-os concisamente, conforme o permite o título de um diário, e reduzindo-os ao Sistema do grande Lineu[5] a proporção que casualmente se forem apresentando. Reservando, porém, para um particular suplemento aos diários da 1ª Partida[6] todos os conhecimentos que pode alcançar e as minhas ocupações me concederem acerca da mesma matéria.

Bem longe de desprezar os termos próprios do País, eu pretendo usar deles simultaneamente depois de os explicar, e combinar nas mesmas notas; assim será inteligível este diário não só na Europa, mas ainda nesta América.

Pode ser que meu ante-escriptor tenha nos passados Diários suprido já a interpretação destas frases; mas eu não devo expor aos meus leitores na contingência de experimentarem essa falta: podendo na leitura omitir-se aquelas notas, que julgarem supérfluas; para cujo fim as distinguirei com diferentes sinais, fazendo preceder uma estrelinha as que definem os referidos termos; de uma letra do alfabeto as pertencentes à História Natural e de números as do País.

Representar todos os dias sobre o Teatro da natureza as mesmas, ou bem semelhantes cenas, e mudar de provérbios não é certamente mais fácil: donde se segue não poder eu fugir do vício da monotonia, ou repetição de palavras.

Finalmente eu sou encaminhado a composição de um Diário de reconhecimentos topográficos com a união de uma viagem histórica; qualquer das duas partes mais difícil aos meus débeis talentos; qual tenra planta, que abundantes, e agradáveis frutos não pode dar antes do seu tempo.

 

[1] COMISSÃO DE DEMARCAÇÃO: comissões encarregadas de definir os limites entre as colônias portuguesas e espanholas na América, de acordo com os tratados assinados entre as duas Coroas. Os Tratados de Madri (1750) e Santo Ildefonso (1777), que redefiniram, os limites da região amazônica e na bacia do Prata, determinaram a formação de expedições demarcatórias com a presença de geógrafos, padres matemáticos, cartógrafos, militares, desenhadores, naturalistas com o objetivo de efetivar as decisões dos tratados e o poder na metrópole em seus territórios. A cartografia produzida por essas expedições serviu como ferramentas fundamentais às negociações políticas e à definição do traçado fronteiriço entre as Coroas Ibéricas. Além de mapear as novas fronteiras, uma vez que as comissões percorreriam uma região pouco explorada, que seus membros também foram encarregados de recolher espécimes naturais, agregando um interesse científico ao caráter político-militar das expedições.

[2] HISTÓRIA‌ ‌NATURAL: Ao‌ ‌longo‌ ‌do‌ ‌século‌ ‌XVIII,‌ ‌tornam-se‌ ‌centrais‌ ‌a‌ ‌observação‌ ‌e‌ ‌estudo‌ ‌da‌ ‌natureza,‌ ‌orientados‌ ‌pelos‌ ‌critérios‌ ‌ilustrados‌ ‌de‌ ‌racionalidade‌ ‌e‌ ‌utilitarismo.‌ ‌O‌ ‌campo‌ ‌do‌ ‌conhecimento‌ ‌designado‌ ‌como‌ ‌História‌ ‌Natural‌ ‌que‌ ‌compreendia‌ ‌a‌ ‌Botânica,‌ ‌a‌ ‌Zoologia‌ ‌e‌ ‌a‌ ‌Mineralogia,‌ ‌sofreu,‌ ‌no‌ ‌setecentos,‌ ‌a‌ ‌influência‌ ‌das‌ ‌novas‌ ‌teorias‌ ‌científicas‌ ‌e‌ ‌paradigmas‌ ‌filosóficos.‌ ‌Buscava-se‌ ‌promover‌ ‌um‌ ‌inventário‌ ‌da‌ ‌natureza‌ ‌de‌ ‌acordo‌ ‌com‌ ‌os‌ ‌sistemas‌ ‌de‌ ‌classificação‌ ‌e‌ ‌a‌ ‌taxonomia‌ ‌criados‌ ‌por‌ ‌‌Carl‌ ‌Von‌ ‌Lineu‌ ‌e‌ ‌das‌ ‌propostas‌ ‌de‌ ‌descrição‌ ‌e‌ ‌investigação‌ ‌do‌ ‌mundo‌ ‌natural‌ ‌organizadas‌ ‌pelo‌ ‌intendente‌ ‌do‌ ‌‌Jardin‌ ‌du‌ ‌Roi‌,‌ ‌conde‌ ‌de‌ ‌Buffon.‌ ‌Nesse‌ ‌período,‌ ‌foram‌ ‌promovidas‌ ‌viagens‌ ‌às‌ ‌diversas‌ ‌regiões‌ ‌do‌ ‌globo‌ ‌tendo‌ ‌em‌ ‌vista‌ ‌o‌ ‌recolhimento‌ ‌de‌ ‌espécies‌ ‌dos‌ ‌“três‌ ‌reinos‌ ‌da‌ ‌natureza”‌ ‌para‌ ‌envio‌ ‌aos‌ ‌museus‌ ‌e‌ ‌gabinetes‌ ‌de‌ ‌História‌ ‌Natural‌ ‌criados‌ ‌na‌ ‌Europa.‌ ‌Em‌ ‌Portugal,‌ ‌verifica-se‌ ‌um‌ ‌crescente‌ ‌interesse‌ ‌pela‌ ‌História‌ ‌Natural‌ ‌na‌ ‌segunda‌ ‌metade‌ ‌do‌ ‌XVIII,‌ ‌manifestado‌ ‌na‌ ‌criação‌ ‌de‌ ‌museus,‌ ‌gabinetes‌ ‌e‌ ‌jardins‌ ‌botânicos‌ ‌e‌ ‌na‌ ‌introdução‌ ‌da‌ ‌disciplina‌ ‌nos‌ ‌estudos‌ ‌superiores‌ ‌através‌ ‌da‌ ‌reforma‌ ‌pombalina‌ ‌da‌ ‌Universidade‌ ‌de‌ ‌Coimbra‌ ‌(1772).‌ ‌Após‌ ‌o‌ ‌período‌ ‌da‌ ‌ocupação‌ ‌holandesa‌ ‌no‌ ‌nordeste‌ ‌brasileiro,‌ ‌quando‌ ‌se‌ ‌produziu‌ ‌o‌ ‌primeiro‌ ‌tratado‌ ‌de‌ ‌História‌ ‌Natural‌ ‌do‌ ‌Brasil,‌ ‌por‌ ‌Piso‌ ‌e‌ ‌Margrave,‌ ‌a‌ ‌investigação‌ ‌da‌ ‌natureza‌ ‌ficaria‌ ‌a‌ ‌cargo‌ ‌especialmente‌ ‌dos‌ ‌religiosos‌ ‌da‌ ‌Companhia‌ ‌de‌ ‌Jesus,‌ ‌até‌ ‌o‌ ‌setecentos,‌ ‌sobretudo‌ ‌em‌ ‌sua‌ ‌segunda‌ ‌metade,‌ ‌quando‌ ‌um‌ ‌maior‌ ‌aproveitamento‌ ‌das‌ ‌potencialidades‌ ‌dos‌ ‌territórios‌ ‌impulsionou‌ ‌o‌ ‌conhecimento‌ ‌das‌ ‌‌produções‌ ‌naturais‌ ‌dos‌ ‌domínios‌ ‌ultramarinos‌ ‌portugueses,‌ ‌incluindo‌ ‌as‌ ‌‌viagens‌ ‌científicas‌ ‌e‌ ‌filosóficas‌ ‌patrocinadas‌ ‌pela‌ ‌Coroa‌ ‌lusa.‌ ‌Integravam‌ ‌tais‌ ‌expedições,‌ ‌naturalistas‌ ‌formados‌ ‌pela‌ Universidade‌ ‌reformada,‌ ‌conhecedores‌ ‌da‌ ‌História‌ ‌Natural‌ ‌que‌ ‌professavam‌ ‌os‌ ‌princípios‌ ‌de‌ ‌experimentação‌ ‌e‌ ‌observação‌ ‌da‌ ‌ciência‌ ‌moderna.‌ ‌As‌ ‌diferentes‌ ‌espécies‌ ‌vegetais‌ ‌e‌ ‌animais‌ recolhidas‌ ‌nas‌ ‌viagens‌ ‌eram‌ ‌encaminhadas‌ ‌aos‌ ‌gabinetes‌ ‌de‌ ‌História‌ ‌Natural‌ ‌e‌ ‌classificadas‌ segundo‌ ‌o‌ ‌sistema‌ ‌lineano.‌ ‌A‌ ‌preocupação‌ ‌com‌ ‌as‌ ‌possíveis‌ ‌aplicações‌ ‌dos‌ ‌produtos‌ ‌verificava-se‌ ‌já‌ ‌na‌ ‌pesquisa‌ ‌de‌ ‌campo,‌ ‌quando‌ ‌os‌ ‌naturalistas‌ ‌indicavam‌ ‌o‌ ‌uso‌ ‌medicinal‌ ‌e‌ ‌alimentar‌ ‌que‌ ‌lhes‌ ‌davam‌ ‌os‌ ‌povos‌ ‌indígenas.‌ ‌Inúmeras‌ ‌foram‌ ‌as‌ ‌publicações‌ ‌que‌ ‌resultaram‌ ‌desse‌ ‌intenso‌ ‌período‌ ‌dedicado‌ ‌à‌ ‌coleta‌ ‌e‌ ‌à‌ ‌pesquisa‌ ‌dos‌ ‌chamados‌ ‌“três‌ ‌reinos‌ ‌da‌ ‌natureza”,‌ ‌entre‌ ‌elas‌ ‌o‌ ‌‌Florae‌ ‌Lusitanicae‌ ‌et‌ ‌Brasiliensis‌ ‌(1788)‌ ‌e‌ ‌o‌ ‌‌Dicionário‌ ‌dos‌ ‌termos‌ ‌técnicos‌ ‌de‌ ‌História‌ ‌Natural‌ ‌(1788)‌ ‌de‌ ‌‌Domingos‌ ‌Vandelli‌;‌ ‌‌Flora‌ ‌fluminensis‌,‌ ‌de‌ ‌‌José‌ ‌Marianno‌ ‌da‌ ‌Conceição‌ ‌Veloso‌;‌ ‌‌Observações‌ ‌sobre‌ ‌a‌ ‌História‌ ‌Natural‌ ‌de‌ ‌Goa,‌ ‌feitas‌ ‌no‌ ‌ano‌ ‌de‌ ‌1784‌,‌ ‌de‌ ‌Manoel‌ ‌Galvão‌ ‌da‌ ‌Silva,‌ além‌ ‌de‌ ‌diversas‌ ‌memórias‌ ‌da‌ ‌Academia‌ ‌Real‌ ‌das‌ ‌Ciências‌ ‌de‌ ‌Lisboa‌ ‌‌dedicadas‌ ‌à‌ ‌botânica.‌ ‌ ‌

[3] ROSCIO, FRANCISCO JOÃO (1733-1805): nascido na ilha da Madeira em 1733, o geógrafo e engenheiro militar Francisco João Roscio chega ao Brasil em 1767, onde atuaria como cartógrafo. Foi responsável por diversos projetos de vilas, prédios públicos e igrejas. No atual Rio Grande do Sul, seus principais projetos foram a Matriz de Cachoeira do Sul e a Matriz de Rio Pardo. No Rio de Janeiro, projetou a Igreja da Candelária. Designado pelo marquês de Lavradio, vice-rei entre 1770 e 1779, para construção e reparação de fortificações, realizou também o levantamento cartográfico das capitanias do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande de São Pedro o. Tenente-coronel do Corpo de Engenheiros integrou as expedições de demarcação de limites na região Sul do Brasil, decorrentes dos tratados assinados entre as coroas ibéricas. Atuou como segundo comissário, chefiando a primeira divisão da quarta Campanha de demarcação de limites da América Meridional, integrada, ainda, pelo engenheiro José Saldanha e pelo ajudante Elói Portelli. Durante os anos de 1774 e 1775, escreve seu Compêndio Noticioso do Continente do Rio Grande de São Pedro, descrevendo os costumes dos habitantes, as atividades econômicas e o sistema de transportes da região. Entre os anos de 1801 e 1803 ocupou o cargo de governador interino da Capitania do Rio Grande de São Pedro, vindo a falecer em 1805, em Porto Alegre.

[4] TRATADO PRELIMINAR DE 1777 (TRATADO DE SANTO ILDEFONSO): o Tratado Preliminar de Paz e Limites, assinado em Santo Ildefonso, em 1º de outubro de 1777, teve como finalidade encerrar os conflitos fronteiriços na América e na Ásia, que ocorreram ao longo de quase três séculos, entre Portugal e Espanha. Com o fracasso do Tratado de Madri, anulado pelo El Pardo (1761), representantes das coroas ibéricas, d. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho e o conde de Floridablanca, negociaram um tratado preliminar que, posteriormente, foi reafirmado e aprimorado pelo Tratado de Amizade, Garantia e Comércio em 11 de março de 1778 (Tratado de El Pardo). O acordo pretendia demarcar fronteiras conforme os acidentes demográficos das regiões em litígio, para tanto, comissões demarcatórias foram estabelecidas por ambas as coroas, que deveriam encaminhar-se até os locais determinados pelo tratado e estabelecer a linha divisória entre os limites espanhóis e portugueses. De acordo com o tratado, Colônia do Sacramento e as terras a leste do rio Uruguai caberiam à Espanha, incluindo o território das missões orientais, admitindo a soberania castelhana sobre as duas margens do rio da Prata.  Enquanto a Espanha deveria restituir a ilha de Santa Catarina – invadida em 1776 pelas forças espanholas a partir de Buenos Aires – à coroa lusa, além de garantir o domínio português na região do Rio Grande de São Pedro e adjacências, passando o limite fronteiriço pelo rio Jacuí. O tratado previa ainda, ajustes nas divisas da região norte, notadamente Amazonas e Mato Grasso.

[5] LINEU, CARL VON (1707-1788): médico e naturalista sueco, estudou na Universidade de Upsala e dedicou-se aos estudos botânicos em primeiro lugar. Membro de diversas academias científicas, em contato com cientistas holandeses e franceses como os naturalistas do Jardin des Plantes de Paris, celebrizou-se por ter proposto um sistema de classificação das espécies em sua obra Systema Naturae, cuja primeira versão data de 1735. Há muito que os botânicos aspiravam encontrar um método de classificação das plantas fundado na observação e Lineu considerava ter, afinal, concebido um modo de utilizar as características naturais para classificar os gêneros. Mais do que uma terminologia e de artifícios de memorização para registrar plantas e animais, tratava-se de dotar a ciência de uma língua própria, o que estaria no centro de um grande debate do século XVIII, no qual muitos acusariam Lineu de ter tornado a língua da ciência mais complexa que a própria ciência. A despeito das críticas, a importância de sua obra é duradoura e de inegável repercussão, reconhecida por filósofos como Jean Jacques Rousseau, Kant, analisada por pensadores contemporâneos. Embora ele tenha se notabilizado pelo estabelecimento de uma nomenclatura, esta era para Lineu apenas uma parte de seus objetivos, sendo a classificação o outro pilar de sua sistemática. Dispor e denominar eram os fundamentos da ciência lineana, dedicando-se à classificação da natureza, partindo dos órgãos sexuais das flores para chegar ao que ele diria ser “a ordem soberana da natureza”, desvendada pela ordenação proposta. O sistema lineano, bastante disseminado na Península Ibérica, é adotado oficialmente em Portugal após as reformas pombalinas e norteará os trabalhos dos naturalistas luso-brasileiros em missões oficiais, além de engajar administradores e políticos como d. Rodrigo de Souza Coutinho e outros membros da Academia Real das Ciências de Lisboa. O naturalista italiano Domenico Vandelli, lente de História Natural em Coimbra, e idealizador das viagens científicas e filosóficas ao império ultramarino português foi correspondente de Lineu. José Saldanha autor do Diário Resumido e Histórico faz referência à obra do naturalista, buscando utilizar sua taxonomia na análise dos povos indígenas.

[6] 1ª PARTIDA: o documento em questão se refere à expedição promovida pela Primeira divisão de demarcação de limites da América Meridional, responsável pela demarcação das fronteiras da Região Sul, entre os rios Chuí e Igureí. Integraram a equipe portuguesa o governador da capitania do Rio Grande de São Pedro, Sebastião Xavier da Veiga Cabral, principal comissário; o coronel de infantaria com exercício de engenheiro, Francisco João Roscio, como segundo comissário; o engenheiro Alexandre Elói Portelli; o astrônomo e geógrafo José Saldanha, além do engenheiro Francisco das Chagas Santos e do astrônomo Joaquim Félix da Fonseca. A equipe que contava com matemáticos, astrônomos, engenheiros, oficiais, soldados e escravos deveria estabelecer marcos físicos a partir das indicações do Tratado. Os trabalhos tiveram início em 1784 e se estenderam por mais de uma década. A expedição produziu farto material cartográfico da região sul subsidiando a formulação de políticas de defesa das fronteiras, através da construção de fortificações, além de ter estabelecido núcleos de povoamento do território.

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