O Gabinete de História Natural da Universidade de Coimbra foi fundado em 1772, ano da introdução da disciplina nos estudos superiores naquela Universidade. Ambas as medidas refletiam as reformas pombalinas de caráter ilustrado, cabendo ao naturalista italiano Domenico Vandelli, encarregado pelo marquês de Pombal de lecionar a nova matéria, a organização do gabinete. A instituição funcionava como “anfiteatro da natureza”, congregando o maior número possível de espécies de animais, plantas, minerais e artefatos das diversas partes do império. Além do caráter pedagógico e científico de auxílio aos estudiosos do mundo natural, configurava-se como um espaço cortesão, evidenciado pelo envio regular de remessas de espécimes por parte de administradores locais que buscavam com isso fortalecer seus laços nos círculos ilustrados da metrópole e com o próprio rei. Ao reunir a diversidade da natureza e dos povos do império, dava conta de sua magnitude e do poderio do soberano. A exemplo dos outros museus de história natural que se multiplicavam pela Europa setecentista, o da Universidade de Coimbra também adquiriu coleções de particulares, dando-lhes um caráter diverso. Enquanto as coleções particulares refletiam um gosto pessoal pelo entesouramento, os museus dos séculos XVIII, além de simbolizarem o poder das coroas e a extensão de seus domínios, eram espaço de investigação de uma ciência que então despontava. A parte mais significativa de seu acervo veio, entretanto, das viagens filosóficas promovidas pela coroa lusa em seus territórios ultramarinos. Durante essas viagens, os ex-alunos de Vandelli enviavam amostras dos três reinos da natureza.