Assim eram conhecidos os traficantes e negociantes de escravos no Rio de Janeiro, a maior parte deles portugueses, que praticavam o comércio escravagista na região do Valongo. Toda a complexa estrutura de organização desse comércio, que envolvia comissários da alfândega, capitães dos navios, grandes negociantes, tropeiros, atravessadores, foi transferida para o Valongo ainda em fins do século XVIII, pelo marquês do Lavradio. Anteriormente, os escravos eram vendidos nas ruas da área central da cidade, mormente nas proximidades do largo do Paço, na rua São José e arredores, ao alcance dos olhos de moradores e estrangeiros que chegavam para conhecer a colônia. Assim, sob a alegação de proteger os cidadãos das doenças trazidas pelos navios negreiros e preservar a imagem da capital do Brasil, esse mercado foi transferido para a região onde atualmente compreende as áreas da Saúde, Gamboa e Santo Cristo. A região do Valongo abrigou o desembarque dos navios, e a comercialização dos escravos, nos mercados, trapiches e casas dos negociantes que se localizavam na rua de mesmo nome (hoje rua Camerino). Os homens do Valongo, controlavam o comércio de escravos no maior porto de desembarque de africanos da América, auferindo grandes lucros. Segundo Manolo Fiorentino (1997) e João Fragoso (1998), o mercado de africanos tornou-se uma das atividades coloniais mais lucrativas, responsável pela fortuna mercantil que colocaria tais mercadores no topo da hierarquia econômico e social da colônia. Mesmo depois da lei de 1831 que proibia o tráfico, muitos donos de armazéns continuaram a trabalhar na clandestinidade, mas em condições mais difíceis por conta da inspeção inglesa. Os negociantes continuaram lucrando, principalmente por conta do aumento do preço do cativo, todavia a atividade tornou-se mais arriscada. A partir de 1850, quando o tráfico é definitivamente extinto, o comércio interno de escravos perdurou, entretanto, parte dos comerciantes passaria a dedicar seus capitais a outras atividades comerciais e a indústria.