Ao longo do século XVIII, tornam-se centrais a observação e estudo da natureza, orientados pelos critérios ilustrados de racionalidade e utilitarismo. O campo do conhecimento designado como História Natural que compreendia a Botânica, a Zoologia e a Mineralogia, sofreu, no setecentos, a influência das novas teorias científicas e paradigmas filosóficos. Buscava-se promover um inventário da natureza de acordo com os sistemas de classificação e a taxonomia criados por Carl Von Lineu e das propostas de descrição e investigação do mundo natural organizadas pelo intendente do Jardin du Roi, conde de Buffon. Nesse período, foram promovidas viagens às diversas regiões do globo tendo em vista o recolhimento de espécies dos “três reinos da natureza” para envio aos museus e gabinetes de História Natural criados na Europa. Em Portugal, verifica-se um crescente interesse pela História Natural na segunda metade do XVIII, manifestado na criação de museus, gabinetes e jardins botânicos e na introdução da disciplina nos estudos superiores através da reforma pombalina da Universidade de Coimbra (1772). Após o período da ocupação holandesa no nordeste brasileiro, quando se produziu o primeiro tratado de História Natural do Brasil, por Piso e Margrave, a investigação da natureza ficaria a cargo especialmente dos religiosos da Companhia de Jesus, até o setecentos, sobretudo em sua segunda metade, quando um maior aproveitamento das potencialidades dos territórios impulsionou o conhecimento das produções naturais dos domínios ultramarinos portugueses, incluindo as viagens científicas e filosóficas patrocinadas pela Coroa lusa. Integravam tais expedições, naturalistas formados pela Universidade reformada, conhecedores da História Natural que professavam os princípios de experimentação e observação da ciência moderna. As diferentes espécies vegetais e animais recolhidas nas viagens eram encaminhadas aos gabinetes de História Natural e classificadas segundo o sistema lineano. A preocupação com as possíveis aplicações dos produtos verificava-se já na pesquisa de campo, quando os naturalistas indicavam o uso medicinal e alimentar que lhes davam os povos indígenas. Inúmeras foram as publicações que resultaram desse intenso período dedicado à coleta e à pesquisa dos chamados “três reinos da natureza”, entre elas o Florae Lusitanicae et Brasiliensis (1788) e o Dicionário dos termos técnicos de História Natural (1788) de Domingos Vandelli; Flora fluminensis, de José Marianno da Conceição Veloso; Observações sobre a História Natural de Goa, feitas no ano de 1784, de Manoel Galvão da Silva, além de diversas memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa dedicadas à botânica.